Os altos gastos da Premier League fazem mal ao futebol?

A cada janela de transferências, um fato se repete: a Premier League domina o mercado mundial.

Neste início de temporada, os clubes ingleses foram novamente os que mais gastaram com contratações — somando cifras bilionárias e superando com folga as ligas da Espanha, Itália, França e Alemanha.

Para efeito de comparação, o Brasileirão gastou 18 vezes menos do que os times ingleses.

E essa diferença não se limita ao campo das contratações: ela se reflete em direitos de transmissão, salários, patrocínios e poder de influência global.

Hoje, a Premier League arrecada até 30 vezes mais do que a Ligue 1 francesa em direitos de TV internacionais — e isso molda todo o ecossistema do futebol moderno.

Mas essa dominância é saudável para o futebol mundial?

E, mais importante, ela é resultado de uma boa gestão da Inglaterra ou de falhas estruturais das outras ligas?


O mérito inglês: gestão, marketing e modelo de negócio

Parte desse sucesso é, sim, mérito da estrutura inglesa.

Após o desastre de Hillsborough, em 1989, e a crise de reputação do futebol britânico, o país redesenhou completamente o seu sistema esportivo.

Nascia ali o modelo da Premier League moderna:

  • Clubes com governança empresarial e responsabilidade financeira;
  • Estádios renovados, seguros e familiares;
  • Um projeto de marketing global unificado;
  • Abertura para investimentos estrangeiros controlados;
  • E um sistema de repartição de receitas televisivas mais equilibrado entre os clubes.

O resultado é uma liga que transformou o futebol em entretenimento premium, vendendo emoção e espetáculo como poucos no mundo.

Hoje, a Premier League é transmitida para mais de 200 países e movimenta cerca de 10 bilhões de libras por temporada — um valor sem precedentes.


O desequilíbrio global: quando o dinheiro concentra o talento

Por outro lado, essa força também criou um abismo competitivo.

As últimas edições da Champions League mostram a tendência clara: a hegemonia inglesa.

Clubes como Manchester City, Liverpool e Chelsea dominam o cenário europeu, enquanto outras potências tradicionais — como Milan, Barcelona e até o Bayern — enfrentam dificuldades para competir financeiramente.

O problema é que essa concentração de recursos drena talentos das demais ligas.

Clubes médios da Espanha, França e até do Brasil acabam se tornando fornecedores de jogadores para a Inglaterra.

A balança pende cada vez mais para o lado britânico — e a consequência é um futebol menos diverso e previsível.

Mérito inglês ou falha das outras ligas?

A resposta talvez esteja no meio-termo.

Os ingleses souberam profissionalizar sua liga, atrair investidores e proteger a marca Premier League como um produto global.

Mas as demais ligas demoraram para reagir:

  • Espanha se tornou dependente de Barcelona e Real Madrid;
  • Itália ainda sofre com arenas ultrapassadas e dívidas fiscais;
  • França depende quase exclusivamente do PSG para ter visibilidade internacional;
  • E o Brasil continua refém de gestões políticas e calendários desorganizados.

Enquanto isso, a Inglaterra transformou seus clubes em empresas globais de entretenimento, com gestões corporativas e estratégias de expansão internacional.


O futuro do futebol mundial

O domínio da Premier League acende um alerta: se nada mudar, o futebol pode se tornar um monopólio de marca e dinheiro, concentrado em um só país.

O desafio das outras ligas é equilibrar o jogo, apostando em formação, inovação e governança, não apenas em paixão e tradição.

E talvez essa seja a grande lição: a paixão vence jogos, mas a gestão vence campeonatos.

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Jéssica Nunes
Jéssica Nunes
Artigos: 11

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